Paulo David . photos: © FG+SG fotografia de arquitectura
“ CONSTRUIR NO CONSTRUIDO ”
( ESPESSURA DO TEMPO )
Um troço de cidade na matriz histórica do Funchal, congrega um conjunto formal diverso, com uso diferenciado ao longo da sua história, uma casa, uma oficina, uma fabrica e um armazém. Chega aos nossos dias, exaurido da sua potencialidade programática, onde acresce um estado de degradação construtiva bastante acentuada. Espelha um quadro de uma Cidade devoluta.
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Constituída nas suas diferentes tipologias por uma bela Casa oitocentista, responsável pela fundação deste pequeno troço de cidade, organiza o tempo romântico. Manifesta no seu plano marginal de frente rua o exemplar mais significativo. Implanta-se a cota mais baixa desta parcela, e viu-se afastada da sua génese programática ao longo do século XX.
Diversos corpos adoçam-se a esta com funções bastante distintas, marcam um período de forte carácter evidenciando o seu tempo industrial. O construir de uma pequena fábrica de bordados nas costas da casa, e no seu lado oposto a construção de oficinas de automóveis estabelece forte contacto com uma frente rua mais elevada.
O seu estado encontrado espelha aquilo que se chama hoje de vazio urbano.
( ESTRUTURA DO PROJECTO )
A diversidade programática e as suas fortes diferenças formais, constrói a estratégia do projecto onde procuramos uma celebração arqueológica deste lugar, mais do que fazer de novo, procuramos a exaltação da totalidade da espessura do tempo encontrado, estruturando uma prerrogativa para novos tempos.
Representa oportunidade única no contexto actual desta cidade que apresenta sinais devolutos bem manifestos. Junta-se a conjugação e o valor de ser exclusivo de um proprietário, aliada à vontade de recuperar e revitalizar este quarteirão da Cidade.
O projecto mede-se em duas posições: a primeira, com um carácter mais perene, refere-se à obra de Restauro da Casa Antiga dada a natureza da sua construção original que se pretendeu manter e recuperar de modo a prolongar a longevidade desta tipologia enquanto detentora de pormenores e elementos arquitectónicos das construções mais antigas da Madeira; a segunda frente enquadrou-se na política da reciclagem e reutilização de estruturas preexistentes onde o que se pretendeu alcançar foi uma sedimentação temporal de actividades e elementos arquitectónicos, no prolongamento lógico e sequencial das estruturas que compõem a parcela.
O objectivo é que estas estruturas funcionem como suporte de actividades e organização espacial adequadas à época e economia da sua utilização e, para tal, recorreu-se à instalação de elementos pré-fabricados que possibilita o seu desmonte no futuro e ocupação do mesmo espaço por outras estruturas, adequadas à nova função que lhes estiver na base.
(ATRAVESSAMENTO DO LUGAR )
O projecto convoca para um atravessamento dos diferentes tempos e espaços, duas ruas tocam-se pelo trabalho conquistado para a permeabilidade dos edifícios, dominando a topografia da cidade.
O espaço agora encontrado, amplo e aberto, composto por novos comércios, dispõem-se para novas experiências urbanas e suas culturas, ….regenera-se este bocado de Cidade,..
“ .. a vida é bela, porque muda…”
