0

Machado Vaz

Casa da Arquitectura . Matosinhos

Guilherme Machado Vaz . photos: © Casa da Arquitectura

Casa da Arquitectura in Matosinhos, Portugal, officially opens.
_

The main objective of this project was to re-establish the balance of forces between Nature and the human spirit. A balance achieved through a negotiation with both Nature, which claims a space that was once hers, in an endless struggle; the human spirit, which manifested a hundred years ago and built the space; and with the spirit that will necessarily have to manifest today and establish a dialogue with the previous two.

Através de uma investigação do contexto histórico dos edifícios industriais da Real Vinícola, construídos entre 1897 e 1901, o projeto de arquitetura – 100 anos depois – tem como suporte as ruínas existentes no local e a sua reabilitação.
“No momento em que o edifício rui” segundo Simmel, “isso não significa outra coisa senão que as meras forças da natureza começam a predominar sobre a obra humana: a equação entre natureza e espírito humano desloca-se em favor da natureza”.
O objetivo principal deste projeto foi restabelecer o equilíbrio das forças entre a natureza e o espírito humano. Um equilíbrio que passou por uma negociação com ambos. Com a natureza, que reivindica, numa luta infindável, um espaço que outrora foi seu; o espírito humano manifestado há cem anos atrás e que construiu esse espaço; e aquele que obrigatoriamente terá de se manifestar hoje e dialogar com os anteriormente referidos.
Exemplo desse diálogo, são as árvores que se mantêm no interior de um dos edifícios e que foram mantidas, criando-se – para que tal fosse viável – pátios exteriores. O edifício voltou a ser ocupado, mas respeitou-se o direito adquirido pela natureza ao longo dos anos em que o local esteve ao abandono.
Procurou-se desenhar – sempre que possível – de acordo com o projeto original. Toda a volumetria exterior foi recuperada, o desenho das asnas de madeira manteve-se, reconstruiram-se carpintarias. Procurou-se manter o espírito industrial do lugar.
Houve alteração de funções, o que implicou novos espaços, infraestruturas e legislação a ser cumprida. As caixas de escadas em betão colocadas no exterior do edifício foram necessárias por razões de segurança contra incêndio. Optou-se por não as introduzir no interior devido ao impacto negativo que as mesmas teriam na estrutura de aço da laje que exprime toda a sua beleza na repetição quase infinita do módulo estrutural criado pelos pilares e as vigas. Foi necessário abrir-se janelas no alçado nascente do quarteirão. Uma vez que estávamos a introduzir um novo elemento no projeto, optámos por assumir o carácter contemporâneo da intervenção em vez de a dissimular, funcionando a janela como uma moldura que é encostada à parede, contrariamente às janelas existentes que são massa retirada à mesma.
Para além de procurar este equilíbrio entre as diferentes forças intervenientes, quisemos que o mesmo fosse visível e se manifestasse em toda a sua verdade porque acreditamos que a matéria deveria, neste caso particular, ser lida no espaço e no tempo.